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O texto abaixo é o roteiro original do podcast mencionado acima. Você pode fazer a leitura completa dele aqui ou ouvir tudo na íntegra e com trilha sonora em diversos aplicativos de podcast. Fique à vontade para escolher!
Olá, pessoas! Aqui é o Danilo Fernandes trazendo pra vocês o sexto episódio do Pequeno Update deste ano.
Nesta semana, no dia 21 de outubro, comemoramos mais um Dia do Podcast aqui no Brasil. A iniciativa surgiu em 2014 com a ideia de divulgar essa mídia tão legal e que ainda era desconhecida naquele ano.
2014 foi o ano de lançamento do filme Interestelar, do primeiro Guardiões da Galáxia e do primeiro longa metragem do Lego. Também foi o ano em que estreou a série de animação adulta Bojack Horseman e quando a música Shake It Off, da Taylor Swift, ganhou os ouvidos e os corações de milhares de fãs pelo mundo.
Em 2014 eu também já tinha 4 anos de experiência com podcasts e já fazia o ComéquePOD. E por estar há tanto tempo envolvido com essa mídia, eu também estive presente quando algumas pessoas combinaram, em um grupo de podcasters no Facebook, que 21 de outubro seria uma ótima data para se comemorar o dia do podcast. Afinal, foi naquela mesma data, em 2004, que o Danilo Medeiros - meu xará - lançou o primeiro podcast que se tem conhecimento aqui no Brasil: o Digital Minds.
Essa é uma pequena parte da história do podcast no nosso país. Mas e quem são vocês? Quem são os ouvintes de podcast no Brasil em 2023?
Ao longo do tempo, enquanto o podcast era um mero hobby de pessoas que queriam jogar conversa fora na internet, existia um esforço da comunidade em conhecer de perto seu público e também de se conhecer melhor.
Estudantes, programadores, futuros jornalistas - entre outros - deixavam de ter um momento de descanso para gravar suas conversas, editá-las e postar na internet. Mesmo sendo um mero passatempo, teve um pessoal lá em 2008 que conseguiu organizar uma enorme pesquisa de público a troco de nada. Ou melhor: a troco de saber quem era esse público que gostava de ouvir e consumir essa brincadeira.
Quem eram? Quantos anos tinham? De que lugar do mundo ouviam? Quais temas gostavam mais de escutar?
Os anos passaram, o podcast virou uma plataforma de comunicação bastante conhecida e a lógica de produção e consumo se dispersou. Por um lado, isso é ótimo. Quanto mais gente fazendo e ouvindo, melhor. Torna a dinâmica mais importante e é capaz até de gerar empregos.
Mas por outro lado, tenho visto que não existe mais uma comunidade de podcasters que querem fazer a “pesquisa pela pesquisa”. O que tenho observado é que isso agora ficou nas mãos de quem já era gigante, como emissoras de TV, rádios e empresas de streaming.
Desde 2018 e, principalmente a partir da pandemia, esse pessoal financeiramente mais robusto é quem realiza a maior parte das pesquisas de público. O problema, a meu ver, é que cada um aplica sua própria metodologia, visando seus próprios interesses de forma bem específica e, claro, usando amostras populacionais bem diferentes uns dos outros.
E em paralelo a isso, também tem feito muita falta os eventos de podcasts Brasil afora, com discussões sobre a mídia e as últimas novidades para os criadores de conteúdo, seus públicos e pessoas que vêm se interessando cada vez mais pelo fazer da coisa. Hoje, pela lógica do mercado, nota-se pouco interesse em quem faz acontecer e, em contrapartida, tem-se um grande foco no podcast como trampolim para vender serviços, cursos e na criação de um grande monopólio audiovisual.
Mas antes dessa situação se tornar realidade, tínhamos a PodPesquisa, feita pela Associação Brasileira de Podcasters. Ela era quase que um grande evento que mobilizava a comunidade de fãs e ouvintes pelo Brasil.
“E o que é a Associação Brasileira de Podcasters?”, você deve estar se perguntando.
Bom, a ABPod - como é popularmente conhecida - é uma entidade civil, sem fins lucrativos, que foi fundada em 2006 em prol de quem já fazia podcast naquela época. Ela tinha até seu próprio estatuto que, ao longo de 15 páginas, definia as atribuições e estrutura organizacional de seus membros. E eu sei disso porque eu tenho uma cópia dela aqui comigo.
Logo na primeira página temos, por exemplo, o capítulo sobre as finalidades da ABPod. Entre elas estão:
Ou seja, era uma iniciativa super legal lá em 2006 e que, mesmo com uma gestão diferente, ainda continua existindo até hoje.
Quanto à PodPesquisa, ela começou lá em 2008, com 436 pessoas respondendo perguntas sobre suas respectivas preferências no consumo de podcasts e chegou à sua quinta edição em 2019 com mais de 16 mil respostas. E, tirando a pesquisa voltada para os produtores de conteúdo, essa é a última que temos.
Quatro anos se passaram e, com o cenário mudando mais rápido do que nunca, chega a ser preocupante que não tenhamos desenhado o perfil do ouvinte brasileiro de hoje.
O que nós temos de mais atual são pesquisas feitas em outros países, como Estados Unidos e Japão, mas não sabemos até onde podemos nos comparar com eles e usar os mesmos dados como base para ações que visam a melhoria do nosso produto ou da experiência dos nossos ouvintes.
E aqui no Brasil o que temos de mais recente são pesquisas mais amplas que, eventualmente, colocam a mídia Podcast dentro de um recorte específico. É o exemplo da última edição do relatório da Kantar Ibope Media, chamado Inside Audio. O estudo, anteriormente chamado Inside Rádio, afirma que 50% da população ouve podcasts.
Mas há de se ter em mente que é 50% da população dentro de um grupo de entrevistados que já é ouvinte de rádio e que mora em uma das regiões metropolitanas pesquisadas. São vários filtros que podem esconder nuances sobre o perfil do ouvinte brasileiro.
Longe disso ser uma crítica a qualquer uma dessas pesquisas. Todas as que foram consultadas por mim para este episódio são ótimas no que se propõem. E eu não encontrei nenhuma que tentou ser tão abrangente quanto a PodPesquisa – que também não era perfeita.
E afinal de contas, por que uma pesquisa como essa seria importante?
Basicamente ela ajudaria quem produz a conhecer melhor o hábito de consumo dos ouvintes no geral. As pessoas estão consumindo mais videocasts do que podcasts? Estão dando preferência para episódios menores ou o “efeito tiktok” ainda não chegou por aqui? Os podcasts de humor e cultura pop ainda são os preferidos do público? E mais importante: você, podcaster, está indo na contramão do que a maioria gosta?
Claro que não precisa tentar agradar todo mundo, mas se seu podcast não é sobre jogadores de pólo aquático que também tocam gaita de fole, isso já facilita e muito o seu trabalho.
Então hoje não conhecemos o ouvinte brasileiro de podcasts. Por isso o título deste episódio é uma pergunta e uma reflexão.
A ausência de uma comunidade sólida de produtores, como já foi vista antes de forma mais evidente, aliada à crescente investida de grandes corporações em busca de domínio deste mercado, ameaça desestabilizar de forma permanente o ecossistema dos podcasts.
Por isso é fundamental que os produtores independentes e entusiastas desse meio trabalhem juntos para manter a diversidade e a autenticidade que tornam os podcasts uma plataforma única e valiosa para a comunicação e a expressão.
Se o podcast, enquanto uma mídia relativamente desconhecida, conseguiu reunir esforços para se consolidar em benefício de sua comunidade, por que, quase 20 anos depois, a tarefa de compreender sua audiência parece ter se tornado mais desafiadora?
Dificuldade real, novos interesses ou má vontade em fazer acontecer?
Quem se interessou pelo tema e quer ouvir outros podcasts nossos sobre a PodPesquisa e a ABPod, é só dar uma conferida nos links na descrição deste episódio. Temos um episódio de 2014 analisando os resultados da pesquisa daquele ano e temos dois de 2018 falando da própria ABPod. Um deles com o Maestro Billy, que foi um dos membros fundadores da associação.
Para quaisquer outros assuntos, estamos no site comequepod.com e nas redes sociais através do @comequepod.
Meu nome é Danilo Fernandes e eu me despeço de vocês aqui.
Até a próxima!